Os critérios clássicos de segurança de barragens baseados no conceito de factor de segurança não informam suficientemente o projectista e o dono da obra sobre os riscos gerados pelas barragens nas populações, bens e ambiente a jusante das obras. Apresentam-se, por isso, alguns princípios básicos de segurança tendo em vista mostrar a importância dos métodos que envolvem a avaliação das probabilidades de colapso das barragens e as suas consequências em termos de perda de vidas e bens. Descreve-se o método de avaliação do custo do risco decorrente de cenários de colapso possíveis e independentes. O risco inerente a cada cenário permite detectar os mais desfavoráveis e onde se justifica investir para reduzir o risco total. Mostra-se, ainda, o interesse das "figuras de mérito" como forma de orientar as decisões quanto aos níveis de segurança a adaptar no dimensionamento ou na exploração das obras. A segurança das barragens e a minorização das perdas de vidas e bens pode implementar-se com um sistema de alerta eficiente, mas há sempre o risco de não se detectarem a tempo os indícios de colapso ou de se promoverem falsos alertas que desacreditam o sistema para futuras intervenções. Porque os conceitos probabilísticos de risco e de "figuras de mérito" são pouco utilizados na prática e pouco difundidos na literatura, considerou-se indispensável fazer uma aplicação prática a um caso concreto para melhor demonstrar as potencialidades dos métodos e conceitos. Escolheu-se o aproveitamento hidráulico de M'Jara em Marrocos, por ser uma obra importante, concebida e dimensionada com base em critérios clássicos de factores de segurança, mas em que no dimensionamento aos sismos se teve de recorrer ao método dos deslocamentos sísmicos permanentes, para adequadamente prever o compor­ tamento da barragem. Esperava-se que a aplicação prática revelasse a importância dos cenários das acções sísmicas em todas as decisões críticas para dimensionamento e execução das obras. Inesperadamente, foi o cenário da erosão interna que se revelou como o mais crítico e no qual será mais necessário investir na fase em curso de execução das obras. A aplicação que se apresenta não passa de um exercício preparado para esta lição e por ser o primeiro na prática do autor não beneficia de experiência ou de outros exemplos para aferir algumas eventuais inconsistências. É nesse âmbito que as conclusões do exercício devem ser entendidas, não envolvendo, por isso, a responsabilidade do autor como chefe do projecto da barragem de M'Jara, nem tão-pouco do dono da obra, que não conhece oficialmente o estudo nem emitiu opinião.